sexta-feira, 3 de agosto de 2012

VIDAS SECAS EM CANÇÕES, POEMA E PINTURA

Asa Branca
Luiz Gonzaga e Henrique Teixeira - 03/03/1947
Quando "oiei" a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação

Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de "
prantação"
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"
Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração

Hoje longe, muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim
vortar pro meu sertão

Quando o verde dos teus "óio"
Se "
espaiá" na prantação
Eu te asseguro, não chore não, viu
Que eu
vortarei, viu
Meu coração

A VOLTA DA ASA BRANCA
Luiz Gonzaga

Já faz três noites
Que pro norte relampeia
A asa branca
Ouvindo o ronco do trovão
Já bateu asas
E voltou pro meu sertão
Ai, ai eu vou me embora
Vou cuidar da
prantação

A seca fez eu desertar da minha terra
Mas felizmente Deus agora se alembrou
De mandar chuva
Pr'esse sertão sofredor
Sertão das
muié séria
Dos homes
trabaiador

Rios correndo
As cachoeira tão zoando
Terra
moiada
Mato verde, que riqueza
E a asa branca
Tarde canta, que beleza
Ai, ai, o povo alegre
Mais alegre a natureza


Sentindo a chuva
Eu me
arrescordo de Rosinha
A linda flor
Do meu sertão pernambucano
E se a safra
Não
atrapaiá meus pranos
Que que há, ô seu vigário
Vou casar no fim do ano.

RETIRANTE
Gonzaga Medeiros
Vai para onde, ó retirante,
com este rosto tão magro
e este olhar tão profundo
de tão profundamente olhar o vazio da vida
no cheio e sujo poço do mundo?
Teve de pendurar a enxada
por ordem da ditadura do boi?
Responda, ó retirante,
onde pensa encontrar terra mais repartida,
justiça mais triunfante?
Depois de atravessar fronteiras,
montes, distantes porteiras,
montado no calcanhar,
olhem lá o retirante!
Tem cara de Fabiano,
sua vida seca tem cara
da história de Ramos, Graciliano.
Vai para onde, ó retirante?

Retirantes, de Cândido Portinari
 
 

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